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domingo, 30 de janeiro de 2011


Sinto-me aliviada, agora.

Alívio motivado pela certeza de que você não me causa mais sofrimento. Alívio porque tenho plena consciência de que você não mais me procurará, e tal consciência, acredite, não me abala. Sei que tanto faz pra você se eu estou com alguém ou não. Não tenho mais esperanças de que você faça qualquer tipo de plano que me inclua. E sei bem que, mais do que nunca, não te terei por perto pra me consolar quando me for preciso.

E foram todas essas certezas que me fizeram crer com maior veemência que você não me causa mais sofrimento algum, me fizeram perceber o quão desimportante você é para minha sobrevivência, me fizeram ver que eu consigo caminhar sozinha, me fizeram enxergar que minha felicidade não depende de você e, o melhor, me fizeram descobrir quanto tempo eu perdi enquanto acreditava em tudo que tu me dizias.

Mas, mesmo assim, é muito difícil ter que me convencer de que me fizestes perder tanto tempo, que não resta mais nada da nossa relação, nada além de vagas lembranças…


É certo que ainda não me adaptei muito bem à ideia de não ter que compartilhar contigo tudo que acontece comigo dia-a-dia, como sempre fiz. Sinto sim a sua falta, mas tal falta não me causa mais dor, porque sei que não te terei mais ao meu lado. Estou me adaptando bem à solidão. Não há mais o que chorar.

Estou serena, pois desvendei a causa de meu sofrimento, esclareci para mim mesma que a esperança que eu tinha de ainda ficarmos juntos era o que aumentava ainda mais a minha dor.


Estou livre!


Sei que, de agora em diante, meus dias serão do jeito que eu desejar. Sei que não me perderei mais em teus sorrisos, teus olhares; pena que fiz todas estas descobertas um pouco tarde. Pois, mesmo assim, você estará tatuado em mim de maneira a deixar grandes marcas, caso eu consiga arrancar-te do meu peito...

Mas, apesar dessa dor, eu consigo estar mais calma, pois agora eu tenho certeza plena de que minha felicidade só depende de mim. A partir de hoje, eu desejo que minha vida seja mais fluida.

Como é bom escrever sobre mim!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Agora estou de olhos abertos,
E eles não se cerram mais.
E vejo, calada,
Até aquilo que não queria ver.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Não gosto de ver-te sob os carinhos de outra pessoa que não seja eu, mas gosto da dor que isto me causa…

Não gosto de saber que não correspondes aos meus sentimentos por ti, mas gosto da angústia que tal consciência me proporciona…

Algumas pessoas dirão que isto é masoquismo, eu sei. Mas só o fará quem não compreender que o sofrimento que tu me causas é o único resquício teu dentro de mim. E que a intensidade da minha dor é diretamente proporcional ao tamanho da esperança de que disponho de te ter ao meu lado, novamente…

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sentimental


O quanto eu te falei que isso vai mudar
Motivo eu nunca dei
Você me avisar, me ensinar, falar do que foi pra você,
Não vai me livrar de viver
Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim se pôde evitar.
De tanto eu te falar você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão
Pra se perder no abismo que é pensar e sentir
Ela é mais sentimental que eu!
Então fica bem
Se eu sofro um pouco mais.
"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te
ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim, mas deixa.
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim.
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir.
Rodrigo Amarante



LEITURA ANALÍTICA: Sentimental é para mim a musica mais subjetiva dos hermanos. Essa musica ao meu ver, é de um rapaz se declarando para uma amiga. Era um amor platônico, ele sempre soube que um dia ia falar isso com ela...mas nunca teve coragem, e ele sendo amigo dela, tinha que ficar sempre ouvindo os desabafos dos relacionamentos dela e a aconselhava.
Só que chegou uma hora que ele não agüentou mais e falou tudo que sentia apesar do medo que ele tinha falar. Ela ficou surpresa com o sentimento dele, e não sabia o que fazer. E com isso ela acaba ficando confusa em relação ao que ela realmente pensar e senti a respeito dele, pois ela começa a perceber que pode haver algum sentimento reciproco por ele.
 
Mas ela não expressa a reciprocidade diretamente , deixando pensar que ela não o corresponde. O que o torna mais apaixonado por ela..
                                                                        
E no final,ele desabafa a dor te saber sobre o envolvimento dela com outros, e demonstra que ele não conseguiu perceber que na verdade ela também o ama.
(Análise disponível no Blog "O primeiro depois o último".)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011



"Tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras; sou irritável e piro facilmente; também sou muito calma e perdôo logo; não esqueço nunca; mas há poucas coisas de que eu me lembre; sou paciente, mas profundamente colérica, como a maioria dos pacientes; as pessoas nunca me irritam mesmo, certamente porque eu as perdôo de antemão; gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo comigo; nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade, mas como pode ser verdade, se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela tivessem entrando? Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo; se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz; quanto a minha paz superficial, ela é uma alusão à verdadeira paz; outra coisa que esqueci é que há outra alusão em mim - a do mundo grande e aberto; apesar do meu ar duro, sou cheia de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza...”


Clarice Lispector


Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...


Mário de Sá-Carneiro


Os ventos que as vezes tiram
algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que
aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar
pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi
dado.Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai
para sempre...


(Bob Marley)


A paixão vive fora do tempo. O amor vive no tempo porque deixa rastros. Paixão se esquece, e amor nem enterrando acaba.
(Fabrício Carpinejar)


"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval."


Vinícius de Moraes

Sorri quando a dor te torturar

E a saudade atormentar

Os teus dias tristonhos vazios


Sorri quando tudo terminar

Quando nada mais restar

Do teu sonho encantador


Sorri quando o sol perder a luz

E sentires uma cruz

Nos teus ombros cansados doridos


Sorri vai mentindo a sua dor

E ao notar que tu sorris

Todo mundo irá supor

Que és feliz


Charles Chaplin

O meu mundo não é como o dos outros,

Quero demais, exijo demais,

Há em mim uma sede de infinito,

Uma angústia constante que nem eu mesma compreendo,

Pois estou longe de ser uma pessimista;

Sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada.

Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... Sei lá de
quê!"
Florbela Espanca

"A vontade se superar um afecto não é, em última análise,
senão vontade de um outro ou de vários outros afectos."



"Odeio quem me rouba a solidão sem verdadeiramente oferecer companhia."


Friedrich Nietzsche


Há situações na vida em que já tanto nos dá perder por 
dez como perder por cem, o que queremos é conhecer rapidamente a última 
soma do desastre, para depois, se tal for possível não voltarmos a 
pensar mais no assunto.



José Saramago

terça-feira, 18 de janeiro de 2011



Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou, e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar.


Caio Fernando Abreu


O amor não me compete, eu quero é destilar as emoções...


Elis Regina

Manias



E nessa de cuidar, vou cuidar de mim. De mim, do meu coração e dessa minha mania de amar demais, de querer demais, de esperar demais. Dessa minha mania tão boba de amar errado. 


Caio Fernando Abreu

Casa Pré-Fabricada -


Abre os teus armários eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços castos
Cobre a culpa vã ... até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo.

Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz, tristeza nunca mais

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão
Nesta espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela, primavera quer entrar
Pra fazer da nossa voz uma só nota.

Canto que é de canto que eu vou chegar
Canto e toco um tanto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz. Tristeza nunca mais.


Marcelo Camelo

LEITURA ANALÍTICA:
 a casa seria como uma vida, e o pré-fabricado, como um planejamento dessa vida, logo, uma vida planejada. Vida essa que foi planejada por um rapaz apaixonado por uma mulher. Esse rapaz pede para a mulher a qual ele ama, para abrir seu coração e passar a vê-lo de outra forma, pois ele esta ali a espera de uma reciprocidade dela, para os dois ficarem juntos.
A moça cujo ele esta apaixonado é uma mulher pura, inocente. Com isso, ele tenta fazer com que tudo fique da maneira mais confortável para ela. Ele pede para ela, não sentir nenhum tipo de culpa ou receio por pensar nele, pois isso é algo natural, e não a porque sentir medo de iniciar uma nova relação com ele.
O rapaz pede a mulher, de uma forma mais pura possível, que ela demonstre uma reciprocidade do sentimento.
Ele já se encontra completamente encantado por ela, e procura algo nela, que possa tenta explicar o tanto de excedente de paz que habita seu coração
Após ver que toda a espera por ter receio de se declarar, só fez mal a ele, o rapaz, como se tivesse aprendido a lição, exalta que prefere sofrer por ter sido rejeitado, do que simplesmente ficar sozinho por medo de tentar. Essa falta de coragem, que o impediu de tentar por muito tempo, impedi-o também de viver sua vida de forma normal, fazendo com que ele não conseguisse ajustar nada no seu cotidiano
O rapaz ao longo da música reforça o pedido para que a moça abra seu coração para ele, e a veja de outra forma. Essa suplica vem trazida de um enorme desejo dele, de fazer deles dois juntos, uma só alma, como se para ele, ela fosse algo que a completasse(falando em metáforas “a metade da laranja”).
Completamente apaixonado, o homem se diz fazer de tudo para se exibir de uma forma positiva para ela(ele simplesmente não só se declara para ela, mas também tenta mostra suas qualidades , como forma de tentar conquista-la).
Como forma de demonstrar seu sentimento, o homem procura algo que lhe explique de forma racional(se é que existe), o porque dele sentira paz que ele senti. Para finalizar, ele diz que toda a tristeza e depressão que sentia antes, nunca mais sentirá. (Disponível no Blog "O primeiro, depois o último")

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Alma Nua - Vander Lee




Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta

Sou assim...


"Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.
Sou isso hoje...
Amanhã, já me reinventei.
Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim.
Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar...
Não me dôo pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Sou boba, mas não sou burra. Ingênua, mas não santa. Sou pessoa de riso fácil...e choro também!"
Tati Bernardi

Você Me Faz Continuar - Nando Reis


As vezes eu acho que o mundo inteiro se revoltou contra mim
Sem nenhum porquê, eu viro a mesa, parece ser o fim
Mas quando me lembro que tenho você eu procuro me acalmar
Isso me consola e tudo melhora e a cabeça volta pro lugar
Eu sei faz tanto tempo
Passamos por muitos momentos
Saber que tenho você me faz...
Me faz continuar
As vezes eu acho que o mundo inteiro esconde o jogo de mim
Eu olho pro lado, estou deslocado, parece ser o fim
Mas quando você sabe o que me dizer... Como pode ser tão natural?
Em um instante, mesmo distante, a cabeça volta ao normal
Eu sei faz tanto tempo,
Passamos por muitos momentos,
Saber que eu tenho você me faz...
Me faz continuar!

Rubem Alves



"Não sabia que era precisamente esse fracasso que me levaria ao lugar que desejava. As correntes do rio profundo foram mais generosas que o meu remar contra elas. Não cheguei aonde planejei ir. Cheguei, sem querer, aonde meu coração queria chegar, sem que eu o soubesse."

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A ventania que fere a pele - Samara Inácio*

Foi quando vi aquela foto que tive certeza de que tudo já era vão. Sim, nada mais poderíamos fazer. Teus dias eram suspensos e nessa suspensão da realidade embarcamos, nós, sem rumo e sem paradeiro.
Acordamos numa época desconhecida, num tempo que parecia não mais nos acariciar, mas que nos perfurava a cada vã tentativa de compreensão. Não há mais tempo que nos possa abarcar, nem nos acolher. Se o tempo é inimigo dos mortais, sua declaração é aberta e a guerra é iminente. Numa outra dimensão, talvez, possamos nos entender, mas agora o entendimento é destruição.
Foi naquele parque que percebi que algo estava diferente. Tão diferente que imediatamente minhas mãos apontavam para uma direção contrária da que estava. Segui-as. Do outro lado estavam coisas há muito deixadas, ressecadas pela pressa da mudança impensada. Senti que era necessário mais uma vez retornar e retomar as rédeas. O caminho estava aberto, restava trilhá-lo, cuidadosamente, porém, corajosamente.
Quando te vi naquele balanço, cadenciando a vida e a visão, entendi que o momento chegava e era inevitável. Repensei as palavras, ensaiei o discurso, refiz as dores, os gestos. Preparei-me.
Quando eu caminhava, a ventania veio em nossa direção. Eu não sabia se deveria ir, fugindo do perigo que representava tentar salvar a ti. As folhas voavam alto, a poeira me fazia espirrar. Vi seus olhos turvos. Vi sua pele morena que era violentamente atacada pelo vento incessante. E o balanço, no qual estava, embalava cada vez mais alto. Desespero eu vi no teu olhar. Descontrole. Não havia como parar. Solução? Pular. A altura daquilo era imensa. Risco de morte, um pulo, um salto. O chão. A dureza do solo aguardando a queda anunciada.
Consegui ver sua blusa. De um lilás claro, cheia de pedras que decoravam o apagamento da cor, que caia tão bem com a tonalidade da tua pele. Triste pensar que a qualquer momento ela estaria manchada pelo vermelho forte do sangue que jorraria. Não, não sou fatalista. O que esperar daquela ventania inexplicável que viera para embalar teu balanço nesta cidade serrana? Não, não posso nada contra a tua vontade. O tempo sempre foi teu e continuará sendo até que compreendas que “um” às vezes significa “múltiplo”.
Tentei acender um cigarro. Coloquei a mão na frente do fogo. Queimei-a. Acendi o cigarro, contudo. Enquanto eu fumava, fiquei observando o balanço. Subindo e descendo. Deixando fluir a brisa envolvente, com teu perfume de armário velho, limpo. Pensei, que podemos nós, não é mesmo? Que podemos quando não há maneira de fugir a essa areia trazida pela ventania? Quando a pele começa a sangrar em pontos diferentes e a areia promove pequenas infecções, em pontos estratégicos do corpo.
Enquanto eu consumia o cigarro, vi pequenas bolhas de sangue formando-se na minha pele. Sua blusa lilás claro começava a colorir-se. Uma pequena mancha vermelha aqui, outra ali. Seus lábios rosados estavam pálidos agora. Seu olhar buscava o vazio, olhando ao longe e tentando dar conta de uma imensidão intratável. A pele dos teus braços escamava e eu assisti de longe. Ao meu redor, as folhas mexiam-se, era um bailado sem explicação. Pareciam aguardar algo. Um acontecimento. Um grito.
E continuavas lá. No balanço. Subindo e descendo sem parar. Embalada pela velocidade do cata-vento que girava cada vez mais rápido. E esse sol que não pára de brilhar e nubla minha visão. Seus olhos estão atônitos. O corpo parece não agüentar mais o embalo grosseiro e brusco. Sei, tu sentes. A madeira começa a ceder. As cordas não agüentarão por muito tempo.
Lembrei daquele dia alegre em que estávamos voltando. Olho no olho. Uma alegria indecente de estar lado a lado. E as estradas que ficavam para trás. A paisagem que passava e não notávamos. Que importavam as pessoas ali? Éramos vontade, desejo. Um desencontro, era isso que nos tornávamos sem perceber. Tudo estava ficando também para trás. A alegria aparente, o contentamento presente. A certeza incerta de que as coisas dariam certo. O tempo era aquele e a dependência era vontade. Apenas isso. Cri que a resolução estava no tempo. E que esse tempo não tardaria a chegar.
Mas naquela cidade em que chegáramos tudo mudou. A recusa. A negativa aflorando nos lábios. O choro convulso a espera da oportunidade certa de começar. Não, não consegui olhar e dizer tchau, adeus. Não era o momento ainda. E aquele dia passou. Terminou como se um pudesse sucedê-lo. Outro, porém, não existiria. Contentamento pungente. A luta constante estava ali, a executar-se, e não demoraria a sair o vencedor da batalha duradoura, destruidora.
Caminhei pelas ruas observando tudo que ali estava disposto. Pessoas, construções, pequenos edifícios de cidade do interior. O ar quente, o calor insuportável. O suor e odor do sol que as pessoas traziam e deixavam no vento que me batia na face. Havia um destino a seguir, a cumprir. E não deixei o meu caminho. Deixei outras coisas no caminho, pessoas, objetos, respeito. Olhei e as vi pelo chão, espalhadas. Que espera doentia a minha, meu deus. Quanta bobagem dita em horas de retribuição do calor humano falho e fátuo.
Essa minha insistência boba. De que adianta conservar um sentimento límpido, leve, quando não há como conjugá-lo em tempo algum. Observei sua trajetória, meu bem. Assisti a ela como se não me fosse possível acreditar que você seria capaz. Vejo esse balanço subindo e descendo, embalado pela ventania, e sinceramente não sei se quero que ele pare. E se ele parar, quero ver teu corpo no chão. Desculpe-me. É só um desejo precipitado de quem se sente previamente julgado e condenado sem provas e sem direito a defesa. A criatura mais vil que pode ter habitado este planeta deve ter tido direito à defesa, a uma segunda chance. No entanto, minha condenação fora sumária e a minha pena imensa.
O vento parou, de repente. Ao longe, vi o sol brilhando e preparando-se para seu espetáculo de fim de tarde. O céu começava a adquirir tonalidade avermelhada, alaranjada. A ventania, todavia, continuava. Sempre mais forte. Tu fingias não mais sentir. O desenho do teu rosto mostrava que o medo consumia a calma. Quantas e quantas vezes tentei dizer. Dessas tantas vezes, o que consegui foi pouquíssimo. Palavras inúteis as minhas.
O balanço parou no ar. Por um momento, apenas por um momento vislumbrei tua face como se o tempo tivesse parado e fosses ser para sempre assim. Menina. Teu sorriso abriu-se e senti um leve movimento na rota do tempo. Vi tua imagem parada, fora do balanço, no ar. Teus braços movimentam-se, teu cabelo voa, desalinhado. Sentado aguardo o desenrolar desse momento. O movimento do sol é mais rápido que teus movimentos. Aceno. Tu não me vês. Estás acima, tão acima das nuvens que já não sei mais se o que vejo é real.
A ventania pára. O tempo pára. O sol pára. O céu, porém, avermelha-se. Reconheço teu cheiro. Sei, sei, tu estás perto. Mas em que lugar da minha tarde, findando, tu te escondes? Diz-me. Ao redor de nós vejo as coisas movimentando-se. Os carros que passam desabaladamente como se os pedestres fossem invisíveis, indestrutíveis. As pessoas apressadas que descem as calçadas e passam por dentro uma das outras. A noite que chegara para elas e a tarde que se finda num crescente infinitesimal para nós, aqui. Quão diversas realidades. E por quanto tempo ainda assim? Volta tudo que busquei esquecer. Volta a raiva, a revolta, o não-sentimento. Fica o cheiro de armário velho e limpo, penetrando na minha pele, mas não me faz parar.
A continuidade do cheiro quase me faz olhar a realidade exterior. Procuro uma fresta pequena e ácida, que me arranhe e me descubra. Repentinamente, escuto um baque seco. Olho ao redor e não vejo nada. Tu terás subido mais que o astro sol, que continua parado nessa tarde que não termina. Minha procura é brusca. Onde estás? – eu grito. Nenhuma resposta. Nenhum eco que responda. Ouço sinos quebrando o ar, tilintando e tilintando e tilintando. Lembrei-me, hoje é domingo. Nas tarde de domingo que se findam a missa se executa. Um padre agora reza em prol de mim, em prol daqueles que estão sempre de braços dados com o sofrimento.
Onde estás? – grito novamente, agora mais forte. Sem medo, jogo o cigarro nas folhas. Sinto o calor aumentando. Olho-as e uma labareda vai aos poucos surgindo. Tento sair, não posso. Olho em volta e não te ver me causa medo. Terá se transformado em estrela, em mais um astro inútil que enumera e povoa a galáxia. Longe de onde estou, vejo uma vala aberta e dela emana uma luz parda. Os sinos continuam a tilintar. Tento chegar mais perto, mas minhas pernas tremem e o frio contraria o calor da fogueira de folhas que eu fizera involuntariamente. Tento não correr. Tento enganar o medo que tenho de sair do meu estado de abulia. Tento, juro que tento, mas meu corpo não atende mais, não pode mais.
Os sinos param. Os carros correm. Pessoas continuam a adentrar nas outras e nada é sentido. É natural. Minhas pernas movem-se agora. Caminho em direção ao desconhecido e temo pelo que posso vir a encontrar. No caminho que trilho encontro plantas mexendo-se. Flores se abrindo. Folhas verdes e orvalhadas. O chão está úmido. Teimo em gritar. Teimo em não me conformar com a resposta. Uma luz vai me fazendo chorar. Lágrima a lágrima vou caminhando. O armário velho e limpo parece estar aberto agora. O som daquele baque seco parece mais forte.
Não preciso mais da resposta. Daquela vala vem o cheiro de armário velho e limpo. Aquela luz? Bem, é de ti que ela vem. E tudo se ilumina quando chego perto. Os animais e pequeninos insetos se aglomeram ao redor. Abro caminho para chegar mais perto. Teus olhos abrem-se. Onde aquele brilho? Nada, não restou nada. Teu corpo intacto vai perdendo aos pouquinhos a luz, ela vai tornando-se cinza. Também tua blusa lilás claro vai tomando outra cor. Tua pele assume um cheiro distante, uma tonalidade indescritível. Tento chorar, já não posso. Vou te desconhecendo aos poucos. Enquanto observo os animais, contemplo tua desmaterialização. Não posso dizer adeus. Para onde será que tu vais agora? Queria saber para poder te escrever, saber notícia, essas coisas.
Viro-me e saio. Não, desculpe-me, mas não posso olhar para trás. Você foi não sei para onde. O que me cabe é continuar. Sinto ser este meu destino e talvez seja essa minha harmartia, mas seguir sem ti não é uma escolha. Preciso ser feliz, sabe. Tua desmaterialização é meu renascimento. Minhas pernas se fortaleceram e posso emitir o som seguro dos meus passos. Curioso, o medo não está mais comigo. Escuto um som, vindo de longe. Parece conjugar um verbo. Olho e vejo minha vida numa pequena animação. E há cores. E são quentes. A ventania cessou. Acendo outro cigarro. Em minhas mãos, não, nelas não sinto nada, não percebo nada.

*Samara Inácio é Mestre em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC), professora de Teoria da Literatura e Literatura Brasileira da Universidade Regional do Cariri (URCA) e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Teoria Literária (NETLI) - URCA

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

(...)


Mais uma vez o despertador toca e acordo pra realidade, nos sonhos éramos felizes e nada nos separava, mas na realidade o sonho acabou e eu abri os olhos e ja não estava mais abraçada com você. Não queria mas sofrer, até porque dizem que não vale apena, mas doi tanto saber que aqui não passou de um sonho, de uma história de amor em que o fim o casal se separa, e o final não é tão feliz assim como os dos filmes, não é como nos sonhos, a vida real é bem mais dificil.
Tentar esquecer, é oque eu mais faço , mas parece que tudo faz lembrar.

Cristina Moura

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Eu vôo!



Acho que ele tem medo de se apegar a mim por causa desse meu jeito muito solto...
Sem problemas, não quero me apegar mesmo!
Se vier, venha sabendo: no primeiro impulso, eu vôo...

Queria ter lhe conhecido antes- Yohana D'ark

Queria ter lhe conhecido antes
Muito antes...
Para que nenhum de nós dois tivesse
Medos ou cicatrizes...
Queria ter estado com você
Quando seu coração descobriu
O que era AMOR
Quando seu corpo descobriu
O que era DESEJO
E antes que pudesse sofrer
Eu estaria do seu lado
Amando-lhe
Entregando-me
E juntos poder ter aprendido
As lições da vida e do coração...
Queria ter lhe conhecido muito antes
Quando suas esperanças
Começaram a nascer...
Quando seus sonhos ainda eram puros
E seus ideais ainda ingênuos...
Pena termos nos encontrado só agora
Já com o coração viciado
Em outros amores
Com uma imagem meio falsa
Do que é felicidade
Do que é entregar-se...
Queria ter lhe encontrado antes
Muito antes
Numa nova vida
Num outro tempo
Em que não precisássemos
Temer o nosso futuro
Nem nossos sentimentos...

Mais uma de Anderson Braga (Sou sua fã, viu Andim)

A procura

“Saio na rua, procuro um amor
Amor sem limite, limite da dor.
Saio na rua, procuro uma flor
Flor do desejo, desejo do horror.
Horror sem fronteiras, fronteiras do amor.
Amor tem barreiras, se torna um horror…
…Procuro o limite, limite do amor.
Amor sem limite, sem limites pro amor.”

Anderson Braga

Colaboração de primeríssima classe de Anderson Braga.

Às vezes é assim

“Às vezes gente 
Às vezes contente 
Às vezes inseguro 
Às vezes imaturo... Mais nunca burro.
Às vezes amando 
Às vezes respeitando
Às vezes ajudando
Às vezes sonhando... Mais nunca chorando.
Às vezes inocente
Às vezes coerente
Às vezes descente
Às vezes infelizmente... Mais nunca alegremente.
Às vezes tonto
Às vezes conto
Às vezes ignoro
Às vezes apoio... Mais nunca Demoro.
Às vezes e às vezes, gente contente, inseguro ou imaturo, amando e respeitando, ajudado e sonhando, incoerentemente coerente, descente mais infelizmente tonto com o conto que ignoro as vezes apoio mais nunca demoro”. 

Anderson Braga